27 janeiro, 2007

HOMENS DO MAR



O local onde está implantada a Capela do Socorro, não há dúvida que é um dos pontos mais turísticos da nossa Cidade, e o de maior agrado-hà bastantes anos atrás...- da nossa classe piscatória, a qual, diáriamente, ali se reunia para conversar sobre assuntos do seu interesse, estudando as alterações do tempo e os movimentos do mar.
Era aí, no lugar de Trás-da-Torre, ou dos Assentos, como também era conhecido, que os pescadores se juntavam nos seus momentos de descanso. E diziam dos Assentos, por nele existir uma série de «bancos» de pedra, trabalhada, naturalmente saída dos flancos do promontório que era a rocha escarpada do Socorro, ao correr de uma muralha pequena, que servia,muitas vezes, de resguardo às frequentes nortadas.
Em tempos ainda muito recuados, este local era bastante frequentado pelos pescadores de mais modesta categoria, sobretudo quando chegavam os barcos de pequeno tráfego, os típicos fanequeiros.
É a chamada, actualmente, pesca artesanal...

...Porque a grande maioria dos moradores da Rua do Socorro, e das áreas que lhe ficam junto, era constituída por pescadores-gente que vivia exclusivamente, da dura faina da pesca.
Conhcemos, e convivemos, com alguns deles. Gente rude, mas séria, de conduta irrepreensível. Desaparecidos, já, do número dos vivos, alguns dos seus descendentes conservam, ainda hoje, as curiosas alcunhas dos seus progenitores.
Eram os Catrinos, os Caniçadas, os Marós, os Pátiagos, o velho Xico Manco (pai dos Granjas-o Zacarias o Zé e o Manuel, que foi jogador do «Rio Ave», os dois últimos vítimas de naufrágio), os Vinagres os Migas, os Lourenços, o Ti´João Bicho, o António da Justina, e ainda outros, de que já não recordamos os nomes...
A alegria-ruidosa, mas ordeira-com que esses valentes homens do mar festejavam o seu regresso da labuta diária, quando a «safra» corria bem, é evidente, numa das «vendas» que mais fama tinha na nossa terra: a da Ti´Glória do Zacarias, que fazia frente, também, para a Calçada de Santiago...
Não há dúvida: os ventos ( e os tempos ) mudaram...

em PARA A HISTÓRIA DE VILA DO CONDE.
Carlos Ouvidor da Costa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Zé

Ao ler o teu blog, e vendo que te referes a umas quantas figuras características da nossa terra, lembrei-me de somar à tua pesquisa, as seguintes alcunhas:

- a pita borrada
- a alice facada
- a do arrachado
- a pinta rates

Por certo que há mais, porém, já não me lembro. Contudo, deixa-me dizer-te que o lugar da capela do Socorro, era o local onde eu, e mais garotos, esperávamos pelos fanequeiros de modo a "roubar" uns quantos pilados (espécie de carangueijos acastanhados) destinados a serem grelhados numa chapa improvisada. Já agora, acrescento que ao chegar a casa, era certo e sabido que tinha sermão: o cheiro de que era portador... transmitia-se a quilómetros de distância!
Mas sabia tão bem! Ou seja, era o marisco dos pobres! Depois disto tudo, só me resta dizer-te: Obrigado por me teres recordado a minha infância. Infância essa que me transmitiu muita felicidade, ainda que inocente e com algumas carências. Hoje chego à conclusão... de que era feliz e não tinha consciência desse estado de espírito!
Uma vez mais obrigado.
Um abraço amigo
Zé Maria Novais