26 fevereiro, 2010

O ALAR DO BARCO
EM VILA CHÃ ( com a tranca ).
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Os rapazitos, sempre na brincadeira, mal descobrem ao longe o barco da sua companha, correm a avisar as mulheres, que o vêm esperar ao areal.
Praia acima, estendem os « paus de barar », lançam à proa um cabo, ( Em Vila Chã, o cabo é substituído por uma tranca que levanta a proa - observa-se melhor na foto de baixo-.
Começa então o típico e afanoso trabalho do alar do barco: os homens e mocetões espadaúdos empurram-no com o corpo; mulheres, crianças e até velhos puxam o cabo, e todo o esforço é rítmicamente acompanhado pelo brado forte e compassado de « Ála... ála... ál´árriba! »
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Nota - Mais um excerto do livro da MARIA TERESA, e mostro as duas fotos para vos dizer que a de cima fotografei-a do próprio livro, é pequena e de má qualidade, mas , na de baixo vemos melhor os pormenores.
Muitos de nós têm em casa esta última fotografia, que é uma das muitas que o Eduardo Adriano nos vendia, e assim, ficamos a saber o que representa, e a data aproximada em que ela foi obtida pelo Carlos Adriano, pois o livro é de 1949.


24 fevereiro, 2010

UMA RENDILHEIRA.
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Uma rendilheira descendo a velha Calçada de S. Francisco.
O "Cereja" , já aqui, num comentário, nos tinha "falado" desta fotografia, e fez o favor de me a enviar.
Penso que esta não tenho, mas há um postal, ou fotografia, em que só mostra esta mesma rendilheira, e linda mulher, não se vendo as pessoas que estão do lado direito.
Numa postagem anterior, falei-vos que conhecia desde criança o Sr. Albino, que trabalhava na antiga carpintaria anexa ao Café Bompastor.
Mas enganei-me, pois o senhor não se chamava Albino, mas sim, Álvaro Morais, e a minha confusão deriva de eu lhe chamar" Albinho ", nome pelo qual era carinhosamente apelidado em minha casa.
Por esses anos, também existia um outro senhor chamado de Francelino, que era manco, e que, tal como o senhor Álvaro, fazia os piques para as rendilheiras.
É curioso, e de anotar, que estas pessoas tinham que ter conhecimento da arte de fazer rendas, pois o risco (desenho), teria que ser calculado em função do número de bilros que trabalhariam em determinada parte do desenho.
Sem dúvida, uma belíssima arte esta, mas eu, pessoalmente, julgo-a pouco acarinhada por nós, vilacondenses.

22 fevereiro, 2010

BATEIRA. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Já aqui falamos das bateiras, ... mas continuando a leitura do livro da MARIA TERESA, a determinada altura pode ler-se o seguinte:
Os pescadores da Bajoca usam também, embora raramente, uns barcos um pouco semelhantes aos de Aveiro: são as bateiras. Os de Mindelo são extremamente leves. É que, na maré baixa, a costa muito pedregosa obriga os pescadores a levarem o barco a peso pelo mar dentro. Aqui as embarcações não são pintadas, faltando-lhes portanto a graça das cores, do nome, das marcas e dos desenhos.
Em Vila Chã usam só catraias e uns barcos com uns bicos muito salientes; dão-lhes o nome de miranços. Estes miranços - assim me informou o pescador com quem falei - só se usam de Mindelo para o sul.
Em Mindelo e Vila Chã usam-se os remos muito mais compridos.
O barco tem várias partes: a proa, é a parte anterior, que se opõe à popa ou ré. A popa e proa estão ligadas, na parte inferior da embarcação, por uma peça forte e recurvada de madeira, à qual se fixam as peças curvas, onde se pregam as tábuas do costado: é a quilha.
A extremidade da quilha, que pode ser mais ou menos saliente, tem o nome de capelo ou bico.
No interior encontram-se os bancos, as cavernas, a cadeira e as panas.
Os remos , em número de 2 ou 4 , giram em volta das chamas (toletes), enfiados nas chamaceiras.
O remo compõe-se de cano, tacos e pá.

19 fevereiro, 2010

REDE / RENDA. ===================================================
A indústria das rendas tem já longos anos de existência; atesta-o uma provisão do tempo de D. Sebastião.
E, porque marítimos são todos os seus mais antigos motivos: - a concha, a lapa, a estrela marinha. o peixe, o búzio - parece ser delicada evolução da indústria das redes.
Não há mulher de Vila do Conde que, ao menos nas horas vagas, não faça a sua renda, cantando descuidada. Trabalha geralmente á porta da rua, sentada no chão, com a almofada num cestinho, e isto dá a Vila do Conde um aspecto característico e deveras interessante.
Não é raro encontrarem-se pequenitas de 4 e 5 anos a manejarem febrilmente os seus bilros; e, dos deditos enxovalhados, saem rendas primorosas de asseio e de beleza.
Esta indústria tem-se desenvolvido grandemente, não só devido á guerra que tem feito rarear as rendas estrangeiras no nosso mercado, mas também, e sobretudo, devido á fundação de escolas dirigidas e sustentadas pelo estado.
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Nota- Excerto do publicado no livro de que vos tenho falado.
Coloquei em destaque, a vermelho, algumas linhas, porque a isso é que eu pretendia dar relevo.


18 fevereiro, 2010

JOSÉ RÉGIO
MUITO ACTUAL.
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"Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos do povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem de seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o " sacrifício "de trinta contos-só!-por seu ofício
Receber, a bem dele...e da Nação."
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Tão actual em 1969, como hoje.
Depois dizem que a tradição não é o que era!
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JOAQUIM GALVÃO-( em "METRO" ).

17 fevereiro, 2010

O PESCADOR.===================================================
A vida do pescador, cheia de poesia e encanto, é ao mesmo tempo dura e angustiosa.
É que o mar, ora o embala carinhosamente nas suas águas ondulantes e, qual pelicano, lhe abre com generosidade as riquezas do seu seio, ora se revolta em vagalhões medonhos e tenta - quantas vezes o conseguindo! - engolir nas suas profundezas infinitas o ser minúsculo que ousa desvendar os seus segredos e enriquecer-se com os seus tesouros.
É, pois, neste convívio amigo e calmo, ou nesta luta renhida entre a fraqueza e a força, a pequenez e a imensidade, que vão passando os dias e as noites do homem do mar. Daí o carácter melancólico e sonhador, tímido e ousado ao mesmo tempo, a alma simples e bondosa, de fé enternecedora, que encontramos no pescador.
Quantas vezes o topamos na praia ou junto à capelinha, a contemplar o Oceano com um olhar profundo, através do qual perpassam, ora as agruras tristes do passado, ora as esperanças e os receios do futuro!
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NOTA - Texto e imagem do livro - A LINGUAGEM DOS PESCADORES E LAVRADORES DO CONCELHO DE VILA DO CONDE -.

12 fevereiro, 2010

- A GRAVETA -
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No último post, e no texto de MARIA TERESA DE M. LINO NETO, vimos que ela fez referência á "graveta", e prosseguindo a leitura do livro, ela escreve mais adiante:
As cachineiras espalham o sargaço ao sol, com o auxílio de uma graveta.
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NOTA - A autora do livro, diz a determinada altura, que escolheu como informadores principais para a escrita deste livro, a « ti Oliba da Bartalina » e o « ti Juquim Cantrão », verdadeiros tipos cachineiros: ela alegre, viva e desempoeirada; ele, triste, de poucas palavras, mas bondoso. Um e outro analfabetos, não ultrapassando os trinta e oito anos.
Na próxima postagem, continuarei a " ler-vos " este livro, o que irá acontecer dentro de três a quatro dias, e entretanto, tenham um bom Carnaval.

11 fevereiro, 2010



APANHA DO SARGAÇO.
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No tempo do sargaço é grande a animação na praia. Aos magotes , as sargaceiras, de trança caída, saia por cima do joelho, casaco de oleado, ganha-pão em riste, aí vão pelo mar dentro, com água ás vezes até ao pescoço, à cata das algas marinhas que pretendem apanhar, e a que dão o nome de surgaço (sargaço).
Às vezes a tarefa vai de sol a sol e não é raro que a uma ou a outra, mais destemida, o mar arraste para os seus abismos.
O sargaço é levado em carrelas para as fieiras e ali espalhado com a «graveta» para secar. Serve depois para adubar as terras, vendendo-se por bom preço aos lavradores, que o chegam a pagar a 1.000$oo a carrada.
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Nota - A primeira foto, e o texto que se segue, foram tirados do mesmo livro que ontem vos falei, e que o António Fangueiro já conhece como ontem nos disse num comentário. É realmente um livro raro, mas talvez a Biblioteca o tenha, e para quem gosta de saber coisas das nossas gentes do mar, aconselho-o vivamente.

10 fevereiro, 2010

UM BARCO DA CACHINA

« O SENHOR DOS NAVEGANTES »
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A figura apresenta-nos uma embarcação da Cachina, cujo tipo, com umas pequenas variantes, é afinal o mesmo que se encontra nas outras praias do Concelho.
Este barco é pintado a óleo, em cores vivas. Vêem-se à proa as "marcas" e, ao centro, o nome da embarcação : « Senhor dos Navegantes ». ( O Senhor dos Navegantes é um grande Cristo Crucificado que se venera na freguesia da Cachina e a que os pescadores têm grande devoção ) .
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NOTA - O texto e imagem, tirei-o de um velho livro que se intitula - A LINGUAGEM DOS PESCADORES E LAVRADORES DO CONCELHO DE VILA DO CONDE -.
É interessante reparar que no barco o nome NAVEGANTES está mal escrito, mas , penso eu, que tal se deve á maneira como falam, porque nós, de vila do Conde ou Caxinas, coisa que eu não distingo, sabemos, ou antes, ouvimos os Caxineiros dizer " Návgantes", que mais não é que uma linguagem própria destas nossas gentes.

08 fevereiro, 2010

- VILA DO CONDE -
DIVERTIMENTO NA AVENIDA JÚLIO GRAÇA.
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(Cliché de Pedro Adriano)
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No post anterior, mostrei-vos uma foto que tinha sido tirada por Eduardo Adriano, e que eu a classifiquei de rara, e esta em nada lhe deve, mesmo não sendo o assunto tão relevante, mas trata-se de uma foto de Pedro Adriano, pai do Eduardo, e irmão de Carlos Adriano.
Tanto o Pedro como o Eduardo, não costumavam fazer fotos de exterior, só muito raramente, e numa impossilidade temporária de Carlos Adriano, como me relata meu pai, pois pai e filho trabalhavam no estúdio, o Eduardo em Vila do Conde, e o Pedro em Famalicão. Nesta terra , Famalicão, o estúdio devia ser muito pequeno, pois a revelação dos negativos era feita em Vila do Conde.
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NOTA - Esta foto deverá remontar aos princípios do séc XX, e por esta altura, esta zona , onde começava o Bairro Balnear, fervilhava de vida.
A animação na zona era constante, bandas que tocavam no corêto, jantares no Hotel ( um dia falaremos dele ), e um sem número de acontecimentos no Casino.
Tudo era novo e novidade, e por esses anos também, as pessoas começavam a aproximar-se da praia.

05 fevereiro, 2010

RUA DIREITA Hoje, RUA DR. AMÉRICO SILVA em AZURARA.
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Pavimento da rua principal de Azurara, que conserva ainda o seu aspecto primitivo. Só o troço de estrada que liga esta freguesia a Vila do Conde se encontra em paralelipípedos.
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Esta fotografia e texto, foram tiradas do mesmos livro de que vos falei no último post.
Mas, tem uma enorme particularidade, pois é um CLICHÉ DE EDUARDO ADRIANO, coisa rara, pois estamos habituados às fotos públicas serem da autoria de Carlos Adriano, ou de seu pai, Joaquim Adriano, mas nunca a Eduardo, filho de Pedro Adriano e sobrinho do Ti´Carlos.
Esta foto é fantástica, pois sendo já do primeiro quarto do séc XX, ainda se pode ver a rua como nos tempos medievais, em que as pessoas faziam os seus despejos para a rua, e estes rasgos no pavimento, era para o seu escoamento.

03 fevereiro, 2010

NOSSA SENHORA DA GUIA

( Fotografia tirada de um cartão de Boas-Festas da CONFRARIA DE NOSSA SENHORA DA GUIA . )
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Dizem que a imagem da SENHORA DA GUIA era a SENHORA DAS CANDEIAS DE NAVAIS, que fugira de ali e aparecera em forma de pomba em cima dos penedos, onde depois lhe fizeram uma capela.
O certo é que, antigamente, no dia da PURIFICAÇÃO DE NOSSA SENHORA ( a 2 de Fevereiro ), o pároco de Navais ( A Igreja de S. Salavador de Navais, no arcebispado de Braga, pertencia ao Mosteiro de Santa Clara, de Vila do Conde ) vinha a Vila do Conde cantar missa na dita CAPELA DE NOSSA SENHORA DA GUIA ou das CANDEIAS, e ia debaixo do pálio, em procissão, Até à CAPELA DE S. TIAGO ( hoje demolida ) ; aí cedia o lugar ao pároco de Vila do Conde, que fazia o resto do percurso, debaixo do pálio, também em procissão. O pároco de Navais tinha a regalia de cantar missa nesta capela, por ser da apresentação das freiras do Convento de Vila do Conde, e por ser esta capela da Guia oratório dos fundadores do dito Convento.
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em AZURARA-SUBSÍDIOS PARA A SUA MONOGRAFIA, por :
Bertino Daciano R. S. Guimarães
Eugénio de Andrea da Cunha e Freitas
Serafim Gonçalves das Neves.

01 fevereiro, 2010

PARA MAIORES
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DE 60 ANOS.
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Digo para maiores de sessenta anos, porque eu deveria ser muito pequeno quando foi feita esta foto.
Tenho centenas de velhos negativos de meu pai para ver, mas infelizmente muitos deles estão piores do que este, porque foram mal armazenados, mas estou a tentar ver quais os que ainda conseguirei mostrar-vos.
Sirvo-me de um muito simples programa para converter os negativos, mas estou em crer que os mais conhecedores destas coisas de computador conseguiriam melhores resultados, mas mesmo assim é interessante mostrar este velho cilindro, que está parado à porta da velha tipografia do Sr. Albino, para os que não se lembram, é mesmo do outro lado da rua do café Bompastor.
A pessoa que se vê do lado direito, tenho quase a certeza que é um velho amigo de meu pai, e que se chama José Gomes, e quanto ao outro, também o recordo, mas não sei dizer-vos quem é.
Por esta altura estavam a decorrer os trabalhos de colocação dos paralelepípedos na Av. Coronel Alberto Graça (hoje- João Canavarro) , e talvez estivessem a ser feitas as obras para o saneamento, pois é bem visível aquela caixa numa posição elevada.
Por favor, venham aqui os mais velhos elucidar-nos.
Recordo de mais tarde, ver este mesmo cilindro (ou haveria outro ? ) parado ali nas proximidades do antigo Tribunal, entre o actual Largo do Laranjal, e o actual posto de polícia, e, se bem lembro, por esses anos seria o Quartel de Bombeiros.