23 julho, 2009

A FORÇA DO OLHAR.
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Numa troca de correspondência com o António Fangueiro, caxineiro , como ele gosta de ser chamado, ele enviou-me este texto, e mesmo sem a sua permissão, não posso deixar de aqui o publicar :

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O fascínio do mar está em parte precisamente na forma como molda o homem que dele vive. Pode não saber ler nem escrever, nem ter "muita escola", mas podem encantar-nos com as suas expressões e modo de falar e isso para mim é mais importante que um Curso Superior. Embora, estranhamente, ninguém olhe para o pescador deste modo, o pescador é "apenas" um caçador de peixe. Não é a conhecida caça de mato ou floresta, mas sim na água, dentro de barcos. Isto faz com que tenha uma cultura própria, muitas vezes chocando com outras e já li que é esta a razão porque os filhos de pescadores não gostam de escola e estudos. A sua cultura não é a de aprender sentados, mas sim com um mentor e por experiência, e por isso queriam sempre era ir para o mar aos 10 ou 11 anos. É também o factor "liberdade" do horizonte marítimo e a expectativa diária de quanto peixe e que tipo de peixe vai vir na linha ou redes. É como que a expectativa da lotaria e isto faz o pescador "sonhar" constantemente com o mar.Enfim, esta seria uma bela conversa de análise ao que é um pescador e a importância que tem para uma sociedade, que cada vez mais devota tudo às máquinas e perde o contacto real com a simplicidade desta vida da pesca.Devidamente organizado (e remunerado), ser pescador será por certo uma das melhores profissões do mundo para o espírito de um homem.

7 comentários:

caxineiro atento disse...

Pois é, mas para uma terra de pescadores como a nossa, aonde está o museu do mar? Sim, o presidente da câmara pôs a primeira pedra por trás do posto dos guardas a alguns anos, mas em vez do museu ser construído ainda puseram o posto da guarda fiscal a baixo. E o Farol do aguilhão?! O projecto polis não contemplou verba para a sua recuperação? Ah, já me esquecia que é nas Caxinas. E os outros faróis que deixaram de existir?! Ah, é o progresso...E o salva-vidas nas Caxinas?!Terra de pescadores?! Quem vem de fora para nos visitar questiona-se aonde fica essa terra de pescadores, pois nada o mostra...

Afonso Henriques disse...

ele acena-vos com o cargo de presidente da junta, vocês mordem o anzol e votam em força no homem mantendo-o no poleiro há décadas. uma das consequência é haver uma descaracterização. os caxineiros já estão espalhados pela vila e por outras freguesias e nas caxinas não moram só caxineiros, muita gente procura-a para morar porque os preços são mais baixos. a memória está a ir-se mas a que preço? (agora até colocaram paineis com fotografias antigas para não esquecerem, mas basta isso?)
estas e outras questões devem ser colocadas aos eusébios e aos postigas desta terra (mas terra com muitos lugares) ou a vocês próprios. valerá a pena vender a alma a troco de uma junta? mas este não é um problema só das caxinas.
viva o Magnânimo.

fangueiro.antonio disse...

Boas meus senhores.

Não posso estar mais de acordo com o que escrevem.
Os problemas são vários, mas a mais pura verdade é que são os votos dos caxineiros que há décadas mantêm as mesmas pessoas no poder, a troco de umas canetas, t-shirts, 4 beijos e apertos de mão. A cultura piscatória (tradicional) da comunidade quase não se nota e os referidos "ícones" do passado estão apagados, à espera do "Messias". Fiquei muito contente por ver as grandes fotos colocadas junto à praia, mas não passa de um início. Há muito mais para além daquilo e tenho a certeza que nos cabe a nós, filhos dos pescadores, tratar de reavivar a nossa cultura, pois os nossos pais e avós são de um tempo de horizontes "mais curtos". Nós, temos o poder, o saber e as ferramentas (esta é uma delas) para pôr mãos à obra.
Há meses atrás, perguntei ao meu pai, de 61 anos, se gostaria de ter uma catraia pequena, igual àquela onde começou a pescar com o seu avô aos 11 anos. Ele olhou para mim... e num momento de silêncio, os olhos brilharam meio incrédulos, como que contente com tão inesperada pergunta, e respondendo à perfeita maneira do pescador, quase sonhando... mas encolhendo os ombros: "Atão num gostava!"
Quantos dos nossos pais falam que gostariam de voltar a ver catraias na praia da Caxina? E se falam, estão à espera que seja o presidente a fazê-las?
Como disse, sejamos nós a mostrar aos nossos pais (e aos "politiqueiros") como se dá vida ao nosso passado.
A geração anterior (e na verdade muita da nossa), julga que a cultura do pescador é "estúpida" e ninguém se interessa por isso, mas basta um par de associações a trabalhar bem (pois nada cai do céu) para começar a "ensinar" a fantástica cultura que temos... e depois... até põem a prancha de surf à venda, pois possuir um barco tradicional à vela igual ao do avô, saber manobrá-lo e competir com os dos amigos ao fim-de-semana até é mais "cool" que uma prancha debaixo do braço. É apenas um exemplo, meus senhores. Depois, à volta de um barco giram muito mais coisas, pois ele é a razão de ser de um pescador e sua cultura. Sem barco, não há pescador.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

fangueiro.antonio disse...

Olá de novo.

Sobre tudo o que temos vindo a escrever... eis alguma da Mestria Galega. Não sabemos fazer igual?

http://www.culturamaritima.org

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

Congratulando-me com o facto de me aperceber, de que aqui e além, para além das Caxinas e Poça da Barca, começa a surgir alguém com um pouco mais de descernimento, que se vai apercebendo da malfadada teia em que as gentes destas localidades, tem sido enleada. E, praticamente, a troco de nada...
Ainda agora, talvez porque temos «eleições à vista» colaram no "Cartodromo" grandes fotos de gente da Caxinas, que até não estaria nada mal, se, não houvesse um enorme senão.
Tal como então dizia o meu Prof. de Português, o saudoso Dr. Renato Cardeal:
Por vezes, há cenários muito bonitos, que tapam coisas muito feias...
Desta feita, não se trata daquele
nauseabundo Esgoto a céu aberto que descarrega para as nossas Praias de Caxinas e Poça da Barca.

Trata-se, isso sim, daquela visita que um dia o então Ministro do Mar
Com. Azevedo Soares fez ao extinto
MUSEU DO MAR, que fundado pelo saudoso A.Vilacova e seu irmão José, existia na Rua cidade de Guimarães (frente à Escola), que
culminaria com uma visita do Senhor Ministro do Mar, junto ao
mar, onde procedeu à cerimónia do lançamento da Primeira Pedra,
daquele que então seria o futuro e grandioso MUSEU DO MAR da nossa Terra.
Precisamente no local onde está o
tal "cartodromo"...
Entretanto, mudaram-se os tempos,
mudaram-se as vontades.
Talvez, opções culturais,
à Tenreiro, e outros que tais...

a) Cereja

Anónimo disse...

Acho que o Carioca não merecia estes comentários.
Mas, enfim, apesar de todos termos nascido nesta linda terra, alguns não herdaram beleza nenhuma dentro da cabeça.

Anónimo disse...

E se calhar tu tens uns belos enfeites na tua cabeça...