05 fevereiro, 2009

LARGO Dr. CUNHA REIS


GRANDES EMBARCAÇÕES eram estas , que nos princípios do século XX se construiam em Vila do Conde.
Esta, da qual só vemos o mastro da proa (que desconheço o nome), parece debruçar-se sobre o vizinho jardim, que era lindo e estava engalanado para as FESTAS DO CARMO em 1906, como alguém escreveu.
Fiz a ampliação, para que melhor se observe o desenrolar daquele momento festivo.

9 comentários:

fangueiro.antonio disse...

Boa noite.

Realmente uma perspectiva bem diferente do habitual. O "mastro da proa", cujo nome é gurupés, bem como as madeiras em volta da proa parecem indicar que é um navio em reparações. É um gurupés já carcomido pelo tempo.
Quanto ao bonito design do jardim, quando penso no que lá está agora... jamais entenderei as políticas modernas de "terraplanar" o passado, não só aqui mas um pouco por todo o lado pelo mundo fora. Vila do Conde, P. de Varzim, etc, vão sofrendo desse mal cada vez mais.
Pergunto aos que sabem mais sobre navios, como se chama a peça que ajuda a suportar o gurupés por baixo, entre este e a roda da proa, possível de ver nesta foto. Costumavam ser trabalhadas com motivos bem bonitos, mesmo em lugres de pesca, muitos deles bacalhoeiros.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

José Cunha disse...

Interessante o termo "terraplanar", pois estou em crer que os arqueólogos o interpretarão como, "destruição".

Anónimo disse...

BEQUE, será a resposta á pergunta do amigo Fangueiro.Esta "curva",é escarvada para a roda de prôa serve de apoio ao gurupés, ou "pau da bujarrona",como aqui era mais conhecido. O"veio da madeira",era escolhido de maneira a condizer com a forma da curva, para ter a resistência maxima.Uma peça destas apareceu em excelente estado durante as obras no canto do cais da rendilheira,provavelmente producto de uma obra num lugre ou yate.
A.CARMO

fangueiro.antonio disse...

Bom dia.

Pois já esperava que o amigo Carmo me esclarecesse sobre então o Beque. Sobre o Gurupés ou Pau da Bujarrona, sendo duas palavras de som e origem invulgar - o que é habitual nas artes marítimas - fui em busca delas e ao que parece, bujarrona é uma das velas à proa (a maior) que quando cheia de vento assemelha-se a um "bujão". Pois bujão, não encontrei significado e gurupés igualmente difícil.
António, sabe o que aconteceu a esse beque encontrado nas obras? Anda por Vila do Conde?

PS. Veio ter a mim um pescador de Vila Praia de Âncora que andou no "Maria Bina". Mundo pequeno este.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

José Cunha disse...

Como sabem, nada entendo de barcos, mas fico deliciado com as vossas conversas.
Carmo, todo este conhecimento que tens acerca da construção de barcos, bem como da história dos NOSSOS estaleiros, vai se perder um dia, ou já está salvaguardado todo esse saber?
Não "arranjas" por aí mais umas fotografiazinhas dos estaleiros para que possamos mostrar aos vilacondenses?

Anónimo disse...

Ontem, 6 de Fevereiro, o nosso comum amigo Artur do Bonfim, pela
vez primeira, participou num colóquio realizada na futura Casa da Memória, recentemente inaugurada, para nos falar desta Vila do Conde de outras eras. Entre outras coisas abordou as
«grandiosas Festas do Carmo, muito
maiores que as de S. João», como disse.
Boa lição a deste "jovem ancião", que finalizou citando alguém:
«Por cada velho que morre, é uma enciclopédia que se enterra».
Portanto, ficou o alerta...
Posto isto,
JARDIM - Nos primórdios dos anos quarenta, foram arrasados, dando lugar ao Recreio Infantil do Dr. António Pires de Lima.
Na foto vê-se uma àrvore que mais tarde, e bastante maior, seria derrubada por violento temporal de
Sudoeste, que igualmente derrubou muitos dos beirais destas casas.
MARINHARIA - Da amura de bombordo,
vemos o Gurupés do navio, no qual encastraria o Pau da Bujarrona e
neste o Pau da Giba, onde se fixariam os estais e velas latinas do mesmo nome, respectivamente, caso se tratasse de um navio de grande porte.
Parabéns ao Carioca.

a) Cereja

Anónimo disse...

Bom dia.
Pois bem, em relação á questão levantada pelo José Cunha,devo adientar que pela responsabilidade que sobre mim pesa,por ser portador de um conhecimento de muito poucos,a construção naval em madeira,e uma vez que tive o previlégio de durante mais de 25 anos,ser o projectista do estaleiro Samuel,do qual tambem fui sócio,onde executei cerca de 80 projectos de embarcações de madeira e algumas de aluminio e de aço da nossa frota de pesca,sentir a obrigação de preservar este conhecimento,estando neste momento a descrever e desenhar as técnicas de construção naval em madeira utilizadas em Vila do Conde para possivel posterior edição em livro.Tudo o que está escrito até agora tem cerca de 100 anos, são técnicas diferentes das nossas,não estando nada escrito sobre as tecnicas da "sala do risco" ou do "galibar"das cavernas, pois estes eram os maiores segredos dos mestres construtor naval.
Assim passados três anos após deixar esta profissão,eis que ela agora volta,não como profissão mas como paixão e como dever de preservar um conhecimento,que a não ser feito já, se perderá irremediavelmente para sempre.
A.CARMO

José Cunha disse...

Estou feliz com o que acabas de nos dizer.
Se eu pudesse ajudar, teria um enorme prazer.

Anónimo disse...

Congratulo-me com o facto de o Tono Zé, ter resolvido doar à sua
Terra, todo o saber acumulado ao longo dos anos como Desenhador do mais prestigiado Estaleiro Naval, em madeira, que tivemos em Portugal na última metade do ùltimo século: os Estaleiros do Samuel.
-Ainda na última Sexta-Feira, após ouvirmos quanto nos contou o nonagenário Artur Bonfim, no Colóquio realizado na antiga Biblioteca Municipal, inquirimos a Srª Vereadora do Pelouro da Cultura, se não seria bom que se procurasse auscultar todas estas pessoas de saber vilacondense, para que não se continue a perder todo este Património, que hoje um, amanhã outro, vão levando para o Cemitério, onde nada disto é preciso.
Resposta (políticamente correcta), que já se está a tratar disso...
O costume.
Embora cépticos, confiemos e
...aguardemos.
Parabéns, A.Carmo.

a) Cereja