04 fevereiro, 2007

O CARRO AMERICANO

(PARTE-I) Um dos mais velhos «americanos» , usados no Verão e sempre aos dias de feira: 3, 12, 20 e 27 de cada mês.
(fotografia do princípio do séc-XX).

Óh e ou ai!

Ou ai meu bem!

O carro americano

Vai p´ra Póvoa sem ninguém.

---------------------------------------------------------------------------(cantiga revisteira da época)

O que havia nesses tempos por esse estirão de caminho , hoje uma rua entre-cidades ?

Depois da escola dos Sininhos e da loja de ferragens e de ferramentas para agricultura do senhor António Ferreira , apenas a estação , com chamávamos ao casarão onde se recolhiam os carros e os cavalos comiam , eram escovados , secos e tratados , com uma casinha insignificante em frente. A seguir uma casa a bordejar a estrada em Alto de Pêga , mais duas pobres casas onde fica a Agros , duas lojas no ramal que vai para as Caxinas: Uma de vinhos com ramo de loureiro à porta da família Eusébio , e a outra de ferragens e oficina do senhor José Morais , Patriarca da família Morais , em Portas Fronhas;em frente a estas o edifício das «goelas de pau» onde se fazia a cobrança do imposto camarário , do lado sul , e do norte a quinta dos Carvalhos.

E dali até ao liceu , uma incaracterística fábrica de cortumes , quatro casas térreas e a casa do tio Zé. Sem falar do rego d´água que corria à borda do Liceu , do lado Sul , onde apanhávamos no seu lodoso leito e ervosas margens amuros , a que chamávamos cabeçudos , e sanguessugas , e que , para arreliar os nossos camaradas da Pòvoa , numa amizade que perdura até hoje , cada vez mais estreita , davamos-lhe o nome de rio da Póvoa de Varzim.

Mas tudo isto era um mundo , o nosso mundo , onde todas as aventuras eram possíveis , até jogar a bola num largo tão pequeno , com um cruzeiro ao meio , que pasmamos , ao vê-lo hoje , como tal era possível-o Largo de S. Braz. E as nossas levadas quando vínhamos em romaria à feira dos 20 de Janeiro , a dos namorados e das colheres de pau , e a mais próxima do 9 de Abril , onde vendíamos o simbólico capacete para os combatentes da 1. Guerra Mundial , a pedido do Major Napoleão , gaseado dessa guerra e nosso professor de ginástica.

Não é por saudosismo , dizíamos , mas para se ver melhor a evolução das técnicas e o desconforto de então para o compararmos com o que hoje possuímos.

Os meios de transporte eram estes e havia quem fizesse o trajecto à «pata» ; as instalações do Liceu carentes de tudo , menos de amor e solidariedade humana.

Que dedicados , competentes , sabedores , pedagogos , os Professores (com letra grande , claro) que tivemos , e que camaradagem entre alunos e a maior parte dos professores.

Que galeria extraordinária está a passar na nossa recordação!

CELSO PONTES.

2 comentários:

Anónimo disse...


adorei este relato do carro americano!
O meu pai hoje com 84 anos e cheio de saúde andou neste Liceu, sempre nos falou do carro americano (que circulava em Vila do Conde e na Póvoa e nos cantou esta pequenina canção....
Ainda hoje conta montes de asneiras que fazia na sua juventude com os amigos da Póvoa e da Vila e todos os anos vai ao almoço dos antigos alunos da escola do gás como era conhecida!
Quando os meus filhos eram pequenos
cantei-lhes muitas vezes esta canção.
Frequentei ainda este "Liceu", mas em 1960, era nessa altura Escola Comercial e Industrial da Póvoa de Varzim, que terminou a sua vida em 1962 com o ENTERRO DA SINETA.
Parabéns mais uma vez pelo teu esforço. Sou "POVEIRA" mas gosto de Vila do Conde e das suas HISTÓRIAS.
BJS DA ÁUREA

José Cunha disse...

"Algumas" das asneiras do teu Pai, certamente funcionariam aqui como um documento.
Obrigado Áurea.
ZCunha