05 novembro, 2010

- AS PRAIAS DE PORTUGAL -

Ramalho Ortigão publica o livro "As Praias de Portugal" em 1876 , logo, deverá ter visitado Vila do Conde, um ou dois anos antes.
Ele deverá ter visto esta ponte, pois a nossa ponte metálica só foi concluída em 1893, deverá até ter andado nesta, de madeira, mas certamente chegou a Vila do Conde pelo caminho de ferro, e talvez para ele tivesse sido novidade a travessia da nossa ponte ferroviária, pois ela era "novinha em folha", pois foi inaugurada em 1872.
Ramalho Ortigão visita-nos numa época de grandes transformações, pois até Linha Americana foi inaugurada por esses anos -1874 -, data muito próxima da publicação do livro, e assim talvez a Linha ainda não existisse.
É interessante ler o que ele conta sobre Vila do Conde :
Ele diz que a nossa praia é talvez a menos frequentada pelos banhistas, o que não obsta a que seja uma das mais pitorescas e mais bela povoação marítima de Portugal.
Diz-nos também que além de algumas famílias muito distintas e especialmente hospitaleiras e amáveis, a população de Vila do Conde é composta principalmente de pescadores e de rendilheiras.
Mas Vila do Conde tem um defeito, diz ele, como estação de banhos que é, a distância que medeia entre a praia e as casas da vila, é muito grande.
Assim, e observando as datas, concluo que se Ramalho Ortigão tivesse subido ao Monte de Sant´Ana, teria observado esta paisagem que a fotografia acima nos mostra.

6 comentários:

fangueiro.antonio disse...

Boas.

Que imagem magnífica. A mais antiga que jamais vi sobre Vila do Conde. Quer-me parecer que vejo ancorados no rio um par de barcos tipo poveiro, "dos grandes". Realmente a distância entre casario e praias era enorme. Extraordinário olhar para esta ponte de madeira.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

Faria Correia disse...

O chamado barco poveiro é um mito. É somente poveiro quando pertence à Póvoa; melhor dizendo, são poveiros os que são da Póvoa, os outros não.
Este tipo de barco é comum a muitas terras. Por sua vez a Póvoa era um lugar de Arguivai, e só se desmembrou em 1625, tendo passado a vila em 1782, e ido a concelho em 1821. Os habitantes do lugar de Verazim (Arguivai) eram lavradores que também iam ao mar. Para melhor explicação, ler o livro de Octávio Lixa Filgueiras, Barcos de Pesca em Portugal. Os chamados erradamente de "poveiros", podem ser: lanchas, bateis, catraias e caicos; comuns à costa portuguesa.
Quando se começou a falar da Póvoa já se pescava há muito noutras paragens. O seu a seu dono.

Anónimo disse...

chapeau monsieur, chapeau.
já agora vide comentário humorístico de 14/9/2009 feito neste blogue

https://www.blogger.com/comment.g?blogID=7624492237519089822&postID=2312838817035308783

ah

fangueiro.antonio disse...

Caro Faria Correia,

O assunto sobre o "mito" do barco poveiro daria pano para mangas. Não tive ainda oportunidade de explorar totalmente as obras de Lixa Filgueiras, mas possuo pelo menos a sua obra "O Barco Poveiro" e como tal parece-me um contracenso que o autor desse este título a esta obra, se discordasse do termo.
A questão está em perceber-se a possível origem deste tipo de barco e o facto de se poder encontrá-los em várias comunidades não implica que tenham lá sido "desenvolvidos". Os poveiros sempre andaram de Norte a Sul e os barcos que usavam, por outras zonas ficavam e se usavam. Eram também os poveiros que iam pescar mais longe da costa, cerca de 25 milhas e mais ninguém pescava tão longe, o que denota total confiança nos barcos que "desenvolveram". Não esquecer também toda a vasta etnografia em volta "do poveiro", o que me leva a perceber a comunidade poveira pela dimensão que atingiu, como provável local onde se "apurou" este tipo de barco.
A questão das origens e influências deste barco... essas busco-as desde há muito pela Europa fora.
E na questão do "o seu a seu dono", pergunto porquê que os pescadores da Póvoa foram porventura os mais descritos, pintados, narrados, etc, não fora as suas características tão antigas e algumas imutadas, que fascinaram estudiosos de várias áreas sociais e antropológicas.
Os Ilhavenses também "deixaram" os seus barcos e influências noutros pontos da costa e lá temos a Costa da Caparica com os meias-luas, o sado com saveiros e bateiras, etc. Mas estes barcos foram para lá levados e sabe-se que são desde tempos imemoriais originários da região lagunar de Aveiro.
Assunto interessante como sempre.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

oliveiras marques disse...

gostei da foto ando a procura duma embarcacao do tempo do fugitivo chama.se jose fernando anos 70 nos chamava.nos o gasoleiro obrigado

Anónimo disse...

Apenas mais umas achas para a fogueira...
Tal como diz o amigo A. Fangueiro,
«o assunto sobre o "mito" do barco
poveiro daria panos para mangas».
Assim como o facto de os «pescadores da Póvoa serem os mais descritos, pintados, narrados», etc.
Quando se refere ao Arq. Octávio Lixa Felgueiras, poder-lhe-ei adiantar aquilo que ele pessoalmente me disse, na Bibliotéca da Póvoa de Varzim,
após uma acesa discussão sobre o assunto, a pontos de o saudoso amigo Manuel Lopes, Poveiro de Gema e Director da Bibliotéca, ali o ameaçar que jamais o convidaria para dissertar na Póvoa.
E aquilo que Lixa Felgueiras disse
foi apenas que a Lancha (tal como a Vela...), era «imprópriamente chamado de Lancha poveira».
Tal afirmação, seria corroborada pelos dirigentes da Federação Galega para a Cultura Marítima,
presentes na Mesa, ao afirmarem que «de facto era um abuso, haver uma qualquer Terra a querer usurpar a Cultura que é de todo um Povo»...
Portanto, tal como diz o amigo Faria Correia, os barcos «são poveiros quando são da Póvoa».
O seu a seu dono...
Mas como o A. Fangueiro diz que isto «daria pano para mangas», leiam (sff) o livro O PESCADOR, do consagrado escritor Raúl Brandão, e depois digam-nos em que páginas ele se refere aos bravos
Pescadores Vilacondenses, sobretudo de Caxinas e Poça da Barca (sem esquecer Vila Chã), que
na época forneciam o maior contingente de homens para a Pesca do Bacalhau?
Constatarão então, que Raúl Brandão, apesar de bom escritor, e por não ter vindo para o terreno, estava muito mal informado.
...E o seu livro, saíu borrado.

Portanto, não podemos ver «tipos poveiros» em todo o lado...

Albino Gomes
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