27 maio, 2009

O RIO AVE.

O rio Ave, quem trata bem dele é o Dr. Luís Costa Maia, no seu livro Pelo Ave. O nosso rio Ave era tão bonito, tão puro, que até se via a areia no fundo. Eu nunca aprendi a nadar (nunca fui peixinho de nadar...), mas lembro-me de rapazes do meu tempo que nadavam bem, e a gente, quando havia as marés vivas (a maré vinha muito acima), e a gente olhava, via a areia! Era a pureza do rio Ave ... E hoje é aquilo que nós sabemos: o rio Ave está cheio de impurezas. É a poluição ...

Eu lembro-me ainda dos navios á vela virem, pela nossa barra, rio acima, descarregar o bacalhau para as secas, as seiras de figos para as mercearias, o sal de Aveiro, e a cal para os fornos de Bagunte e de Macieira. Ainda me lembro disso... A descarga, a profundidade, o calado do nosso rio, permitia que esses barcos entrassem aqui.

Ah! Mas ainda sobre o rio ... A minha mãe falava que o rio Ave subia para a Rua 5 de Outubro (também lhe chamavam Rua Dom Luís), era um canal que entrava pelo sítio onde hoje é a Praça da República. E que naquele canal chegavam a aparecer lampreias ... E os pescadores do alto de Santo Amaro vinham ali pescar peixes!

FONTE- AS MEMÓRIAS DE ARTUR DO BONFIM.


4 comentários:

Anónimo disse...

Durante os anos cinquenta, quando o Fluvial tinha o Posto Náutico ali na Praça da República, junto ao antigo Grémio da Lavoura, e o Rio, então bastante assoreado, não tinha água suficiente para os remadores treinarem, os atletas iam jogar a bola para a outra banda, no antigo Campo do Azurarense (ou das Caveirinhas).
Então acontecia, que quando tínhamos sêde, íamos directamente beber água ao rio, tal como faziam os animais que por ali pastavam, e lá continuavamos a peleja, que normalmente terminava com uma banhoca no mesmo rio.
E hoje?
Como diria o outro: "jamé"...

a) Cereja

José Cunha disse...

" DO LADO DE AZURARA ".
Foi aí o segundo berço do Ginásio Clube Vilacondense. As primeiras corridas, os primeiros treinos, o treinador, "O Méquinho" .... e tanta recordação!
Exactamente nos anos cinquenta, também fui remador do Fluvial, e por aí, os amores entre o Fluvial e o Ginásio (que a minha geração estava a criar), entravam em conflito.
Tenho SAUDADE.

Anónimo disse...

Este livro do Dr Luiz Maya que nos fala o Sr Artur do Bonfim, foi editado em 1915 pela "TYP. MINERVA" de ALFREDO D`AMARAL CORRÊA na av. Campos Henriques nº 26,para alem de constituir uma linda e curiosa obra de caracterização sobre o Rio Ave,constitui tambem um excelente trabalho de preocupação ambiental,o qual demonstra haver quase à cem anos pessoas muito sensibilizadas com este problema.O que diria hoje o Dr Luiz Maya sobre o estado actual dos nossos rios? Este livro,que tenho a felicidade de possuir um raro exemplar,envolve-nos num tema,a demolição dos açudes,que ele defende a todo o custo,restituindo o curso natural ao rio,aumentando o seu estuàrio,permitindo aumentar tambem o caudal de volume de água na barra durante a enchente e a vazante fazendo o seu desassoreamento sem necessidade a dragagens.Este tema vem de muito longe. A demolição dos açudes,foi ordenada pelos Reis Portugueses no SEC XVI,por causar o assoreamento na barra, quando Vila do Conde tinha enorme importância no comercio maritimo,onde chegou a ser um dos maiores portos do Reino.Entretanto os açudes venceram,o porto de Vila do Conde assoreou,deixaram de poder entrar navios de alto bordo,o seu porto e estaleiros perdem importância,a vila no SEC XVIII chega mesmo a perder população.Não teria este aparente desprezavel factor, definido e determinado a evolução e consequente futuro da nossa terra irremediavelmente para sempre? Imagine-se o que seria Vila do Conde se o seu porto lhe tivesse dado hoje a equivalente importancia que manteve ate ao SEC XVI? Será que o Dr Luiz Maya tinha mesmo razão quando deixava a entender que Vila do Conde teria sido diferente se não houvesse os açudes?
A CARMO

fangueiro.antonio disse...

Boas.

Tendo eu nascido em 1975... para mim o Rio Ave sempre foi "preto". Sempre que vejo tão interessantes relatos como estes de quando se via a areia do fundo e se bebia a água é algo no qual quase me custa acreditar e penso sempre se um dia verei o fundo de areia deste rio.
Neste último Natal vi junto do porto de pesca da Póvoa um enorme cartaz pomposo a informar a construção de uma ETAR que irá acabar com o vergonhoso esgoto junto ao cais Sul. Estamos em 2009... . Sinceramente ainda hoje não sei porquê que o Rio Ave é preto, quem o põe preto e quem não faz nada para que deixe de ser preto. Talvez em 2099 seja diferente.
Quanto ao tempo em que o rio tinha vida e navios vinham desde séculos embelezá-lo nas suas estivas... para ser breve, os açudes e seus malefícios terão mantido o nível de população "baixo", e secalhar é melhor assim para quem governa, pois há menos barulho em redor.

Um abraço desde a Polónia.
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt