15 março, 2010

QUEM CASA, QUER CASA.


A CASA DO PESCADOR.
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Observando as Cachinas pelos anos 40, descreve-nos assim , MARIA TERESA, a casa do pescador :
O bairro da Cachina compõe-se apenas de uma grande rua, paralela ao mar e ladeada de um lado e outro por casa térreas de cores vivas e uma ou duas janelas envidraçadas. A porta da rua, sempre aberta, permite que os olhos curiosos de quem passa penetrem no interior.
Eu, porém, não me contentei com um olhar; quis ver tudo, tudo observar. Entrei. A porta dava acesso a um corredor largo que fazia de sala de entrada, ladeada de cadeiras de pinho, colocadas em viés. Sobre as costas das cadeiras, paninhos de croché com franjas, assentes sobre papéis de seda de cores garridas; floreiras com cores variadas; quadros de santos e fotografias de gente rude e enroupada nos seus fatos « de ver a Deus », que os deixam contrafeitos; uma passadeira tecida de trapos velhos, tudo me revelou a solicitude e o arranjo, que não esperava, da mulher do pescador.
Logo a seguir os quartos; vem primeiro o dos pais: cama de madeira com bons lençóis de rendas, cobertores, colcha e guarda-cama e grandes almofadões bordados. Ao fundo, uma cómoda com santos, fotografias variadas e o característico relógio de sala. Logo a seguir, mais simples mas a espelhar igual asseio, o quarto dos «catraios» e depois o das «catraias». O soalho - que a casa é toda assoalhada - amarelinho, escarolado pela mão solicita da pescadeira.
Lá ao fundo, a cozinha com a chaminé, lar alto, forno de cozer a boroa, com a masseira, mesa ao centro, e cantareira com os utensílios necessários.
Por cima o «faurso» (falso) onde guardam a lenha. Dá a cozinha para um quintalejo, onde se encontra a caseta de guardar as redes, todos os aparelhos de pesca, a caldeira e o pio de encascar as redes.
A iluminação era antigamente feita por meio de candeias de graixa; actualmente usam candeeiros de gás, velas, às vezes lamparinas de azeite, e, os mais abastados, electricidade.
A gente mais pobrezinha vive em casa de renda, dispostas à volta de pátio central: são as ilhas.
Nestas, há apenas a cozinha térrea, um quarto e a recova para os catraios.
A vida da colmeia passa-se toda na rua, na praia ou no mar. A casa é só para dormir, comer e pouco mais.
Nem a nortada os obriga a recolher, pois, ainda então, permanecem na rua protegidos pelos abrigos, que dão um aspecto interessante ao bairro.
Em Vila Chã, as casas dos pescadores eram antigamente cobertas de colmo. Agora, já o progresso das telhas lá chegou também, e só uma casa de arrecadação de barcos e de apetrechos de pesca memora o antigo uso.
Aqui , como em Mindelo, e entre os lavradores, as casas são de rés-do-chão com a cozinha térrea ou cimentada, e lojas, o primeiro andar com a torre e os quartos.
Na Bajoca têm apenas um andar: uma salinha, á entrada, a comunicar com um ou dois quartos assoalhados e, ao fundo, a cozinha térrea ou cimentada.
Em nenhuma, porém, encontrei o esmero e até o gosto artístico da habitação dos cahinos.

1 comentário:

fangueiro.antonio disse...

Boas.

Mais um bom pedaço de texto que o José aqui transcreve, o qual de imediato me leva a confirmar este tal esmero em muitas casas dos caxineiros. Óbviamente não serão só os caxineiros a ter esse esmero, mas muitas vezes me refiro a minha casa, na brincadeira, como o Museu.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt