Até ao Século XVIII, a quase totalidade dos vilacondenses vivia do mar: eram navegadores, armadores ou pescadores, dedicavam-se ao comércio marítimo ou às indústrias ligadas ao mar, como a construção naval, fabrico de velas e marinhas de sal.
Foram oriundos de Vila do Conde mais de 100 pilotos das naus e galeões do Século XVI, assim como os autores de sete roteiros de viagens marítimas e tratados de navegação da época dos descobrimentos.
Os estaleiros de Vila do Conde, que no Século XVI se encontravam entre os primeiros do país, são hoje os maiores da Península a fazer navios em madeira e, por isso mesmo, os que poderão dar uma ideia mais aproximada do que seria a célebre «Ribeira das Naus».
A povoação foi o principal centro de fabrico dos «panos de treu» de que eram feitas as velas das naus das carreiras da Ìndia e do Brasil, os quais por isso mesmo eram universalmente conhecidos como «panos de Vila do Conde».
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extrato do publicado no " O COMÉRCIO DO PORTO " em 1990.
14 comentários:
Caro Carioca da Vila,
Mais um belo artigo a relembrar o passado marítimo de Vila do Conde, passado de enorme relevo. Ainda ontem descrevia à minha esposa o que era esta ribeira de Vila do Conde quando eu era miúdo nos anos 80 e de repente acabaram com tudo, estando hoje lá uma nau. Já não há o barulho de serras e martelos à face da estrada, serrim a esvoaçar à passagem dos carros, cheiro a madeira em redor, turistas deliciados a fotografar. A nau é belíssima mas é peça de museu e não transmite o que foi aquele local durante pelo menos 500 anos, sempre com cavernas de barcos ao alto, tamanha era a quantidade de pedidos. Esta sua 1ª foto aérea é pena não ser maior, pois mostra muito bem este passado.
Em breve iniciarei a construção de um modelo de uma traineira construída em Vila do Conde nos anos 50, de nome "Maria Bina", uma de muitas com motor e vela que enchiam a praia dos pescadores da Póvoa. Não me quero virar de novo para políticos, mas que a alma marítima de Vila do Conde está posta em museu... está.
P.S. A "sujidade" dos estaleiros nunca poluíu o Rio Ave... .
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt
Alma marítima de Vila do Conde posta em museu......gostei "dessa"!
A intervenção que foi feita na zona dos antigos estaleiros e a instalação da Nau Quinhentista foi, talvez, a melhor coisa que se fez em Vila do Conde depois do 25 de Abril.
Todos sentimos com romanciada saudade a falta dos estaleiros de construção naval. No entanto, temos de convir que aquela actividade não é, nos temos de hoje, compatível com o funcionamento naquele local.
Óbviamente, mas faz-nos bem olhar o passado.
Obviamente que não concordo minimamente com aquilo que diz o amigo Miguel Paiva. Daí concluir que se alguma tivessem sido poder
iriam cometer os mesmos disparates
cometidos pelos actuais detentores,
o que é pena.
Já o nosso falecido conterrâneo José Régio contestava tal ideia,
dizendo que os estaleiros naquele
lugar, eram uma espécie de CASCATA
VIVA.
E para quem cá vivia, não para aqueles que só de vez em quando por
lá passavam de relance, quanto agradável era ver os turistas
fotografarem, filmarem, e sobretudo respirarem o cheiro a resina e admirarem a azafama do
lugar.
E quando havia algum Bota-a-Baixo?
Aí, tal como diz certa canção:
"O Povo saía à rua, com a alegria que costumava ter".
Alguém bem letrado nestas coisas, dizia-nos um dia: "jardins, com mais ou menos florzinhas, há em
qualquer lado. Disto, é que já não
há em lado nenhum!
Foi pena, mas tudo a falta de talento levou...
Valha-nos ao menos termos ficado com a réplica da Nau, o que já não é tudo mau.
Opinei.
a) Cereja
Opinou e opinou muito bem, cereja.
Para um bota-abaixo o povo saía à rua e hoje em dia... também sai à rua mas anda meio perdido em grandes espaços vazios.
Como disse Régio, era uma Cascata Viva e hoje a cascata está seca, mas não só na ribeira. É um mal moderno que nos vai afectando, este desligar do passado.
Chega por hoje que isto já vai no 3º comentário, mas o tema puxa. É como a sardinha.
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O amigo Cereja descreve um sentimento que eu próprio tenho. Não há dúvidas de que os antigos estaleiros, pelo pitoresco e pela vivência que traziam aquele espaço, eram extraordinários. No que a isso diz respeito, subscrevo inteiramente o que diz.
No entanto, temos de perceber que os tempos vão evoluindo e aquele tipo de construção naval deixou de ter procura, pelo que as empresas que o praticavam tiveram de se adaptar a essas circunstâncias para poderem sobreviver.
Por outro lado, o paradigma de um "burgo cascata" so poderá ser alimentado se for economicamente sustentável. É que as "cascatas" para serem verdadeiramente bonitas necessitam de pessoas, e estas, só cá ficarão se conseguirem garantir o seu sustento. Por isso é que defendo genericamente a intervenção que ali foi feita, pois perpetua a essência do lugar e deu hipótese à industria naval de ter continuidade.
Falar sobre os nossos estaleiros, torna-se para mim muito dificil.É falar de um assunto que prometi muitas vezer jamais o fazer.É como ter de falar de mim mesmo, expor coisas do meu intimo, coisas que achei dever guardar só para mim.Mas o Fangueiro,a certa altura "mexeu" comigo dizendo que vai fazer um modelo da "Maria Bina". Ele deve ter em sua posse uma estampa por mim realizada em 93 com desenhos pormenorizados desta embarcação.Fui sócio e projectista do estaleiro Samuel, fundado pelo meu Avo em 1935,durante25 anos.Hoje não exerço qualquer actividade relacionada com os estaleiros,mas esta paixão fica em nós para sempre.
O ancestral conhecimento que somos portadores e que serviu para Portugal se afirmar ao mundo, corre sérios riscos de daqui a poucos anos se perder para sempre. Os estaleiros foram mudados em 93 para Azurara. Sem esta mudança, não teriam resistido muito tempo.Perdemos a "cascata" mas ficamos com os estaleiros.Para os perptuar temos a NAU e o BARCO DE PESCA em construção, devendo estes servir de primeiro passo de um projecto para pôr a construção naval Vilacondense no patamar que merece a nivel mundial.Conforme diz Filipe Castro, professor na universidade do Texas,e investigador arqueologo subaquatico, Vila do Conde tem o ultimo reduto deste conhecimento a nivel mundial,devendo concentrar esforços ns sua salvaguarda.Muito mais haveria a dizer,mas este não é o local apropriado lembrar das vozes e movimentos coordenados do pessoal a puxar um toro de varias toneladas,o cheiro a cêbo derretido no pote de ferro,tantas outras coisas, o trabalho da sala do risco,dosrendilhados dos seu traços curvos e concordantes, com os seus virotes,com uma precisão admiravel, um conhecimento de muito poucos e que temo a sua perda para sempre
ANTONIO CARMO
Quando há dias me pronunciei sobre este assunto, terminei dizendo: opinei.
Só que, depois disso, MPaiva nos vem
dizer que a destruição dos Estaleiros Navais nesta margem, e tal e coisa, tem a ver com a evolução dos tempos.
Só que, cada vez mais, há quem
confunda Evolução com Involução...
Para além deste caso, veja-se o que
aconteceu à Ponte da Doca, á Ponte
do Caminho de Ferro (Engº Gustav
Eiffel), ao Jardim do Sr. d'Agonia
(e seu gradeamento...), à Praça da República (antiga Sala de Visitas de Vila do Conde), à Ermidinha do Senhor dos Benguiados (que deu o nome ao lugar), etc, etc.
Será isto a tal Evolução?
Vou ali e já venho...
Quanto à questão do trabalho para sustento dos operários, eles estão a sustentar-se do lado de lá, tal
como o fizeram durantes séculos e séculos, do lado de cá.
O que é preciso, e nesta Terra tem
faltado, é Homens, com verdadeiro empenho, alguma arte e engenho!
Talvez por isso, è que o povo diz, e com razão:
-Dá Deus nozes a quem não tem
dentes...
...E é Verdade!
Cereja
operários,
Será que o amigo Cereja pensa nos estaleiros como se de um bem publico se tratasse? São empresas privadas.E olhe,não deve opinar de assuntos que desconhece.
ACARMO
O A. Carmo que me desculpe, mas aqui, tal como o povo diz: Meteu a pata na poça!
E não devia.
Porque o amigo Tono Zé, se não sabe, devia saber, que eu não percebo é de bicicletas...
a Cereja
Pois! é possivel que de bicicletas tambem não entenda.
ACARMO
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a) Cereja
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