14 maio, 2008

A PRAIA

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Dôces como os trinados dos passarinhos, começam a chegar até nós os primeiros alvores da nossa quadra balnear que nos está à porta. Esses signaes do grande movimento próximo manifestam - se muito principalmente na grande procura de casas que dia a dia são objecto de transações de aluguer.
Villa do Conde está, pois, a entrar n´essa festiva quadra em que as nossas almas sentem, o suave balsamo das roupagens poeticas, em que as madrugadas accordam por entre saudações fagueiras, semelhando - se - nos um eden côr de céu banhado pelos requebros do crystalino Ave e illuminado pelo pratear da lua nas noites luarentas. E, quantos idyllios à custa d´essa mansidão, e quantas maravilhas desfructadas na magia d´esses tectos de luz, em que tudo são - Sorrisos , Poesia e Amor !
Riquissima de galas, a nossa terra, quer se olhe pelo ponto de vista da antiguidade - com a sua história, com os seus monumentos e com as suas tradições - quer se considere pelos melhoramentos recentes - boas rêdes de comunicação ferro - viária, magnificos hoteis, rasgadas avenidas, elegantissimo theatro, soberbas alamedas, circo de touros, velodromo, assembleia, law-tenis, etc, etc : - Villa do Conde, dizemos, é um d´esses torrôes privilegiados que a todos impressionava pela sua hygiene, pela excessiva barateza da vida domestica e, especialmente, pela magestude da Natureza que n´ella se nos mostra formosa e sedutora.
É por isso que a nossa praia tem augmentado de concorrencia e, se mais não tem obtido, deve-se a melhor parte d´esse fraco resultado ao desmazelo criminoso dos correspondentes d´esta villa para os jornaes diarios, que são, na sua maior parte, relaxados e preguiçosos, enquanto os das outras localidades luctam tenazmente, porfiadamente, para que as suas terras occupem um logar proeminente nos roteiros do viajante e nos reclames constantes que d´ellas fazem.
Rogar-lhes mais cuidado, insinuar-lhes mais patriotismo, seria o nosso dever, se já o não o tivessemos feito, obtendo como resultado uma amarga e pungitiva desillusão.
No emtanto, a praia de Villa do Conde deve assentar a sua importancia nas estatisticas balneares, como sendo uma das que se recommenda pela sua magnificencia e pelo assombro que provoca a todos os seus visitantes. De norte a sul do paiz póde affirmar-se sem rebuço que a nossa praia é, dentro das praias portuguezas, talvez a primeira em receber no seu seio a fina flôr da aristocracia nacional.
E porque ? pelo esmero de limpeza, pelos surprehentes arrabaldes que desfructa e, decerto sobretudo, pela amavel convivencia facil de abrir-se entre os nossos conterraneos.
Cada villacondense é alguma coisa mais que um bom hospitaleiro, podendo chamar-se até - um bom camarada de passeio, um cicerone do seu hospede. Tambem como é natural presumir-se, encontra no banhista o tom cordeal da sua nobreza e nas gentilissimas banhistas a fulgida aureola das esmeraldas preciosas.
Mas, para que a nossa terra progrida e cresça de movimento, é necessario, in primo loco, matar um bichinho roedor que nos affecta e nos faz mal - a politica.
Abatidos os ergastulos do facciosismo, não se póde desanimar totalmente da sorte da nossa praia e do progredimento de Villa do Conde.
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CUNHA REIS.
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em A RAZÃO de 1901.

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