05 maio, 2008

COPIANDO ...

VILA DO CONDE.

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«Sangue azul nas veias e saudosas recordações no espírito ; delicada, artística, devota; os grandes monumentos atestando a sua grandeza fidalga; o Ave, o querido e belo companheiro que a viu nascer em formusura, lançando na música gentil das suas cascatas deliciosas, o não poder bordar com pérolas e safiras, como outróra, a fimbria do vestido dessa patrícia elegante!

Foi êle, até, se não foi o Mar, quem lhe ensinou, como passatempo adorável, aprendido nos arabescos fantasiados pelas ondas nas suas rochas núas da praia, o segredo das rendas afamadas que hoje os vilacondenses fabricam nas grandes almofadas de bilros.

Religiosa, além de artista, e com todos os dôces atractivos das místicas esposas de Jesus, o mais dôce dos quais ( pede-se licença para o trocadilho ) é exactamente o de fazer dôce, capaz de tentar um Santo.

De modo que, apenas a dois kilómetros de distância, fácilmente vencidos pela caminheta, o viajante cumprimenta a Póvoa gentil e estroina, como uma companheira de boémia, e quase se descobre respeitoso perante o aspecto senhoril desta Vila do Conde aristocrática, como o faria diante de uma Senhora distincta, organisação franzina e delicada, cujo encontro fizêsse por acaso em um passeio de campo, ou na solitária nave de um templo.

A Póvoa tem, pois, o sangue vermelho da burguesia; Vila do Conde o sangue azul das genealogias de vieille roche; a primeira é capaz de preparar e comer connosco uma saborosa caldeirada de peixe fresco, a segunda oferecer-nos há para lunch um pastelinho do Convento e um cálice de licor de rosa.

A origem das duas explica a sua diferença actual; nada como as causas primárias, como os assuntoa tratados ab initio, para fazer compreender êstes fenómenos quase metafísicos em que ninguém repara, afinal »

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( De « O Minho Pitoresco » )

RENOVAÇÃO - 1948.


1 comentário:

Anónimo disse...

Datado de 1947, possuo uma bela pintura "naif", da autoria de
meu tio e padrinho José Cereja.

a)Cereja