03 janeiro, 2007

Aterragem de Emergência

Esta aterragem forçada de um P-39 Airacobra,da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) acontece,provávelmente,entre finais de 1942 e princípios de 1943.O avião imobiliza-se entre a recta do castelo e a praia,em zona de areia. Ao fundo,pode ver-se a silhueta de Santa Clara.
Embora os Estados Unidos ainda não tivessem entrado formalmente na II Grande Guerra,algumas esquadrilhas aéreas da USAF foram enviadas para o Norte de África,onde assistiam as tropas inglesas que,então, aí combatiam os exércitos da Alemanha.
Inicialmente colocados em bases no Sul de Inglaterra,os P-39 faziam depois a viagem ao longo da Biscaya e das costas da Galiza e de Portugal, até aterrarem algures em África,já no limite de reserva de combustível,isto apesar dos aviões estarem equipados com tanques suplementares.
Estes aparelhos tinham vários problemas,consequência do facto de terem sido projectados de forma a que o motor fosse colocado na traseira do avião,por detrás do cockpit.Este conceito permitia a instalação de um canhão na frente do aparelho,o qual disparava através do cone do eixo da hélice,e não através dos intervalos das pás desta mesma hélice,como se usava então.
Os motores não podiam ser sobrealimentados por compressores,devido á insuficiência de fluxo aerodinâmico e,assim, a potência disponível era claramente insuficiente ,se comparada com os Spitfire,Hurricane ou Stukas,o que tornava estes aviões bastante vulneráveis e só passíveis de utilização em missões de ataque ao solo e apoio a tropas terrestres.Por outro lado,a ventilação insuficiente causava sérios problemas de aquecimento de motor,que levavam frequentemente á sua destruição.
Assim,era normal que em cada viagem Inglaterra/Norte de África um número elevado de Cobras (10 a 15 %) ficasse pelo caminho,com avarias,e aterrasse de emergência nas praias da península.Acontecia,então,que o estatuto de neutralidade de Portugal nos permitia "internar" todo e qualquer equipamento militar dos beligerantes que,por qualquer razão,entrasse em território nacional.Assim,a Força Aérea Portuguesa tomou posse de dezanove destes aviões e formou a esquadrilha OK,que viria a ser comandada pelo Tenente Austen Godman Solano de Almeida,mais tarde Comandante da TAP,sob cujas ordens tive a honra e o prazer de trabalhar durante cerca de dois anos.
No entanto,como os aparelhos não traziam consigo os respectivos manuais de instruções e "check lists" ,a sua operação era improvisada e causou vários acidentes,tendo a esquadrilha sido extinta em 1950 .
A maioria dos pilotos detestava este avião e é fácil entender porquê.A colocação do motor na traseira fazia com que o veio da hélice passasse entre as pernas do piloto,causando toda a espécie de problemas ,incluindo vibrações e ruído ensurdecedor.Por outro lado,os gases resultantes dos disparos do canhão eram projectados directamente no cockpit,tornando o ambiente irrespirável.
Não se conhece o destino do piloto do avião que aterrou de emergência em Vila do Conde.Sabe-se que sobreviveu e que fumava cigarros portugueses,provávelmente oferecidos por alguma das primeiras pessoas a chegar ao local do acidente.Muito embora o estatuto de neutralidade também obrigasse ao "internamento" dos pilotos,sabe-se que estes abandonavam clandestinamente o País,com a complacência das autoridades portuguesas.
O P-39 era fabricado pela Bell Aircraft Co e equipado com um motor Allison de 1325 cv,tendo como armamento quatro metralhadoras Colt-Browning de 30" ,nas asas, e duas metralhadoras de 50" no nariz,junto do já referido canhão,um M-4 de 37 mm.
(Fotografia original de José Cunha,pai.O filho só nasceria muito depois )
José Guedes

5 comentários:

Anónimo disse...

Já tinha conhecimento desta aterragem de emergência. Contudo, esta explicação complementar do Zé Guedes, em muito enriquece os meus conhecimentos sobre o acidente, suas causas, contexto e, claro, sobre o avião.

Carlos Laranja

Anónimo disse...

Andei várias horas armado em "rato" de biblioteca procurando nos números da "Renovação" da época qualquer informação sobre o acidente.
Nada ! Só encontrei trovas de louvor ao Estado Novo e seus representantes.
Admito,porém,que a Censura limitasse qualquer tema militar que pudesse beneficiar ou prejudicar qualquer das partes.
Alguém tem alguma ideia sobre o assunto ?

Anónimo disse...

Creio que o José Cunha poderia pedir
esclarecimento ao Artur do Bonfim ou ao Carlos Costa.

José Cunha disse...

Ni,foram exactamente essas as duas pessoas,que eu me lembrei de pedir ajuda...mas tenho de "ir" devagarinho.

Obrigado Ni.

ZC

Anónimo disse...

Bem, não sei se é verdade ou não, mas relatos populares fazem menção de uma aterrragem forçada, não nas praias de vila do conde, mas sim na praia de azurara!!!