11 abril, 2010

GENTE DA MINHA TERRA.

Ti Glória lembra que, outrora, havia outros serviços.
" PENA NÃO HAVER MAIS GENTE "
.
- Vive na Rua dos Prazeres, no coração do centro histórico de Vila do Conde, há 53 anos. Enquanto vai cosendo as redes de pesca do "barquinho" do filho, aos 78 anos Glória Serrão ( a Ti Glória como é conhecida ), vai desfiando o rosário de memórias; lembra os tempos em que em frente era o tribunal no Convento do Carmo (hoje, serve a Autarquia), mais ao lado (agora esquadra da PSP), era o quartel dos bombeiros.
" Fazia-se compras na mercearia do Altino dos Jornais" - Não havia mais nada, lembra. E havia muitas crianças a brincarem na rua. Ela começou, aos 12 anos, a vender peixe às portas " a dez tostões a dúzia ".
Hoje, são menos os serviços importantes e há menos crianças. Cada casa, outrora " com oito e dez filhos ", tem uma ou duas pessoas. Idosas. Filhos e netos, tais como os de Glória, deixaram a zona. Apesar do esforço da Autarquia, que " arranjou ruas e edifícios históricos (transformados em serviços e museus) ", muitas casas restam em mãos de privados, que, ora as deixam abandonadas, ora pedem "balúrdios" para vender.
Na "doquinha", para pena de Glória, a velhinha ponte de pedra foi substituída por uma de traça moderna e são hoje menos os barcos.
Há 50 anos, o cais era um corrupio. Agora, a nau museu faz jus às tradições navais e no cais há um moderno edifício de apoio à pesca quase pronto a inaugurar. " Ficou bonito. Só é pena não haver mais gente aqui", remata.
.
ANA TROCADO MARQUES.
FONTE - Jornal de Notícias - Março - 2010.

Sem comentários: