17 setembro, 2008

DOIS ÓLEOS DE RÉGIO


Extracto do publicado no Boletim Cultural da C.M.de Vila do Conde.
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...Régio confessa que sentiu os mesmos apelos que seu irmão porque os mesmos pinceis, as mesmas tintas e as mesmas telas em branco lhe foram dados.
...Quem seria esta jovem pintada com tanto interesse e ternura pela mão inexperiente de Régio? Que laços os uniriam, que parentesco haveria, que vínculos existiriam para que ele lançasse a mão a um pincel e tentasse reproduzir as feições da jovem que naquele momento o tinham inspirado?
...O curioso é serem estes dois quadros os únicos que se conhecem pintados a óleo por Régio. Que estranho desejo foi o seu de pegar num pincel e em tintas e pintar dois quadros sem nunca mais repetir a tentativa? Que apelo emotivo teria sido para pintar o mesmo rosro em dois quadros que nunca mais tiveram seguimento? O que o teria feito debruçar-se tão demoradamente sobre duas telas e fazer figurar nelas a mesma pessoa? Tudo são perguntas que se podem e devem fazer, sem nos preocuparmos em esclarecer o que não está esclarecido. Os porquês, enquanto a verdade não for alcançada, serão uma perseguição que nos deixa insatisfeitos. Gostavamos de saber quem foi a retratada de Régio. O porquê da sua oferta. As razões que o levaram a pintar dois quadros e nunca mais voltar a pintar. O que o motivou a pintar o parzinho sentado num banco. O porquê daqueles olhos azuis quando tudo indica que a oferta foi feita a quem tinha uns olhos castanhos. A infinidade de perguntas levava-nos, possívelmente, a uma confusão mais intricada e perturbadora. E não vale a pena. O tempo passou, quem era já não existe e não passa de uma recordação que cada vez mais se dilui. Tal como os retradados. Há-de chegar um dia em que essas recordações deixarão de ser olhadas com a ternura que hoje por elas se tem, para daqui a umas dezenas de anos serem olhadas com indiferença e depois deixadas numa sala de arrumos antes de serem consideradas uns tropeços que estão a ocupar um espaço útil. É pena que se tenha de olhar friamente para o que hoje nos podemos comover. A vida é assim. Lancemos pois um olhar para esses quadros que as mãos incipientes de Régio pintaram com o amor dos seus treze anos e a paixão do artista que inflectiu o seu talento para uma outra área que lhe deu uma grande nomeada e o ilustrou. Se a nossa curiosidade não fica satisfeita, o nosso juízo fica mais valorizado, o que é muito importante.

Joaquim Pacheco Neves.
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NOTA - Hoje comemora-se o centésimo sétimo aniversário do nascimento de JOSÉ RÉGIO.

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