17 fevereiro, 2007

O CARNAVAL


UMA NOITE DE CARNAVAL NO TEATRO AFONSO SANCHES.

O Carnaval teve já entre nós seus tempos aureos, em que guisalhava pelas ruas, com enthusiasmo e espirito, o seu maillot tintinabulante, enchendo o ar como ruido do seu evohé alegre.
Pelas ruas, e em casas particulares e bailes publicos, exhibiam-se n´esta quadra trages vistosos e extravagantes, allusões pittorescas, cavalgadas de effeito, e no ar cruzavam-se as serpentinas, n´um tiroteio nutrido, choviam os confettis, os jactos perfumados das bisnagas arrancavam gritos irritados e os cartuchos de pós deixavam por toda a parte a sua mancha alvacenta.
Tudo foi passando, e o Carnaval arrasta-se hoje, apelintrado e dissaborido, sem chiste e sem vida, toda a gente recluindo-se n´uma sisudez apavorante.
De vez em quando, no Affonso Sanches, improvisam-se uns bailes, que já não tem todavia, a concorrencia e graça ads antigas reuniões d´esta epocha.
Carnaval de outros tempos, em que a mocidade ainda não tinha morrido, e nem toda a gente julgava incompativel as suas folias estrepitosas com a grave sisudez dos seua cargos, bom Carnaval da mocidade que passou-como nós temos saudades das tuas partidas brejeiras, das tuas alegrias, do teu bello enthusiasmo tolieiro !

ILLUSTRAÇÂO VILLACONDENSE (Fevereiro de 1911).

1 comentário:

Anónimo disse...

PARABÉNS PELA FOTO E SOBRETUDO PELO TEXTO DA ILUSTRAÇÃO VILACONDENSE.
SE O ARTICULISTA HOJE FOSSE VIVO,
MORRIA, POIS AGORA É TUDO DE ENCOMENDA E ESPONTANEIDADE NÃO HÁ NENHUMA.