09 março, 2009

Esboço de um «Raciocínio»


A MULHER NAS CAXINAS.
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Penso ser a primeira figura das Caxinas, essa mulher que cuida do lar do pescador, enquanto ele está na pesca, ou quantas vezes, sómente (este "sómente", neste específico caso, tem um outro significado, mas ficará para outra altura) olhando o mar.
Passando nas Caxinas, vêmo-los sempre próximo do mar, observando-o, ou simplesmente conversando com os companheiros.
A mulher, essa, mãe e esposa, toma conta do lar, cuida dos filhos, e trata de tudo inerente ao funcionamento da casa.
Há uns anos atrás, ainda a víamos vencendo o quebrar das ondas, na apanha do sargaço, que será um costume antigo, pois antes de viverem junto ao mar, habitavam terrenos mais longínquos, e mais altos.
Anteriormente, já aqui foi dito, e relatado por historiadores, que os pescadores costumavam olhar dos diversos miradouros de Vila do Conde, como Santo Amaro, capela de Santa Catarina, e outros, para de longe, observando o mar, tomarem a decisão da pesca nesse dia. Penso que então , viviam da pesca e da agricultura, e talvez por essa altura tenha nascido a necessidade da apanha do sargaço, para adubo das suas terras.
Talvez também, as rendas tenham nascido dessas mulheres (que nos habituamos a ver sempre vestidas de negro, por força das desgraças que sempre lhes aconteceu, pois quantas vezes, o marido ou o filho, não regressam da pesca), enquanto esperavam os maridos.
Julgo também, que estas gentes são os primitivos habitantes de Vila do Conde, e com eles a terra foi crescendo.
Tudo se terá desenrolado à volta deles, pescando e pagando o imposto ás freiras, o comércio acontecia, e tudo se desenrolava.
Uma das ruas mais antigas de Vila do Conde, será a rua da Senra, e, se repararem, rasga toda a vila, vindo da zona da estrada velha para a Póvoa, e desembocando na doca. A meio da rua, no largo de S.Sebastão, nasciam os caminhos para os meios rurais. Por essa época, toda a vida se desenrolava na zona alta da terra, e se observarmos as casas antigas, e velhos monumentos da vila , só nessa zonas se encontram.
Por esses anos, o mar estava distante, do hospital para poente , nada havia, e perto, estava "a cova da andorinha", esse imenso espaço que separava Vila do Conde , do mar.
Isto que vos conto, é , digamos, um exercício de pensamento, que mais não é do que o meu entendimento do que me ficou registado depois de ler as obras de Eugénio Freitas , e do Dr, Carmo Reis.
Comecei este esboço de raciocínio, como acima lhe chamo, com a mulher das Caxinas (a Caxineira), e atravessando Vila do Conde por largos anos, volto novamente aos dias de hoje, e digo-vos , podemos nos orgulhar da terra que temos, é linda e muito amada.
Escrevi sem rigor histórico, que isso não sei, mas fi-lo como que pintando um quadro de cor, e nele projectando o que até hoje li.

3 comentários:

fangueiro.antonio disse...

Boas.

E escreveu bem, José, simples como simples são as pessoas sobre as quais escreve, as gentes antigas e que viviam com um naco de pão e o peixe que o mar dava ou lavoura que as terras produziam.
Por vezes penso se tudo um dia não vai voltar, não os espaços mas as gentes e a vida... se um dia toda esta ordem frenética e pelos vistos facilmente instável dá para o torto... num qualquer futuro.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

J.pião disse...

Boa Tarde José, e Fangueiro ,um profundo elogio ao simples escrito,más muito bém retratado e entendido ,só que ainda ninguém se incomodou por saber, como viveram os caxineiros e caxineiras os fins das suas vidas, desde os tempos dos nossos ancestrais ,que ninguém se enteressa ém Vila do Conde por saber como resolver reformas das caxineiras ,sim mulheres dos sargaços das redes e dos filhos que nunca tiveram descontos ,más que deram muito ao desenvolvimento as Caxinas e Poça da Barca ,más que a maioria morreram com um prato aos pés e ainda hoje muitas vivem com muitas dificuldades ,más mesmo assim tém direito ao voto e não se escondém quando alguém lhes pede esse mesmo voto ,só que na hora da verdade viram as costas !E por tudo isto eu sinto revolta e nunca me calarei, enquanto cá estár e ter vóz para falar ! comprimentos J.Pontes

João Borges disse...

Tanto quanto sei pelas histórias que meu pai e minha mãe me contam, o sargaço que se extraia do mar pelas valentes sargaceiras serviam como moeda de troca para com os agricultores ou venda.Poucas eram as familias das Caxinas que se dedicavam à agricultura, quem nas Caxinas se dedicava à agricultura não ia ao mar, eram familias vindas de concelhos vizinhos...uma chamada de atenção para quem de direito para tentar preservar o pouco que resta do património das caxinas(ex:farol da praia dos barcos, ex-libris das Caxinas)e sensibilizar os Caxineiros para defenderem o que é seu, algo que não aconteceu aquando da demolição do posto de guarda-fiscal, onde poderia ficar e bem o museu das Caxinas...quem manda não tem sensibilidade para estas coisas pois não é CAXINEIRO!!!saudações de um Borges que tambem é Fangueiro.